Mesmo que a despeito do poeta que morreu pedindo por mais luz, certa
vez, em uma classe de matemática um professor nos evidenciou o contrário. Nesse dia o docente nos propôs uma série bastante
complexa que nos tomou grande parte da aula para resolver tal equação. Era
véspera de prova e imaginava que ele não teria tempo de corrigi-la, pois faltavam
poucos minutos para o final do período. Sem presa ele se aproximou do quadro
negro aplicou uma técnica de primitivação, desse modo e em não mais duas linha e alguns segundos ele chegou
aos mesmos resultados que o resto da turma havia obtido em horas de trabalho. Não me lembro de qual
equação era, nem qual técnica de primitivação foi aplicada, contudo bem me lembro da lição
demostrada por esse homem após seu feito. Atrás de óculos pesados,
nos fitando com olhos mareados pelo depósito de décadas de sedimentação de pó de
giz, fulminou... -Pois é pessoal, luz demais também cega os olhos!
Talvez pelo fato desse homem ter fundamentado seus valores
na tradição judaica, que ensina que nada é mais precioso que a luz, contudo em
seu excesso ela ofusca a visão; esse bom docente citou acidentalmente um dos
postulados mais fundamentais da observação astronômica. Por mais dicotômico que
isso pareça, para captarmos a luz, devemos nos abrigar da luz e de tudo mais
que a reflita. Para tanto, devemos atentar as melhores condições para que
captemos tão somente a luz que nos é favorável. Existe uma série de variáveis
que vêm a influenciar a qualidade da luz que queremos captar. Manipulando tais coeficientes
podemos selecionar o melhor tempo e lugar para aproveitarmos o máximo desempenho
de nossos aparatos ópticos.
Acredito que a nebulosidade ao longo do tempo tenha se
apresentado como a pior barreia ao astrônomo. Além da obvia obstrução por
capota que as nuvens causam no planisfério celeste, essas também refletem parte
da luminosidade oriunda das cidades assim como da lua. Tal coisa é realmente
frustrante, pois por vezes esperamos messes por determinada efemérides
planejamos saída de campo e o céu está encoberto... Certamente seria um absurdo
tentarmos dissipar as nuvens através de algum método fantástico, porem podemos
atentar para alguns princípios. Devemos lembrar que o período de verão é muito
mais nebuloso que o de inverno. Isso não é lá grande problema, pois minha
experiência me aponta que o céu mais interessante. Entretanto, existem objetos
que só se mostram nessa época. Pode ser uma boa idéia esperar um dia que tenha
chovido torrencialmente, comumente a noite vai estar com o céu limpo. Durante o
inverno e essas condições são mais raras, geralmente só associadas a entradas
de frentes frias que são bem mais rápidas em sua passagem. Outra vantagem dessa
época do ano está na baixa umidade e temperatura atmosférica o que minimiza os
efeitos de aberração provocados pelo albedo e pela formação de orvalho sobre o
espelho.
Justamente a temperatura é mais um condicionante para a boa
observação. Um dia que foi muito quente o ar fica “mexido” gerando turbulência,
provocando esse fenômeno de albedo que falei no parágrafo anterior. Devemos nos
lembrar que a atmosfera também é um fluido, logo responde as leis que regem a
mecânica desses corpos! Podes se lamentar agora que não recordares mais de
quase nada sobre Termodinâmica ou Pneumática, sem problemas, isso só prova que
você provavelmente seja uma pessoa feliz! :) Acredito que o objetivo geral
desse blog seja se divertir com as observações e não calcularmos os índices de
refração de nossos objetos observáveis. Isso seria realmente um excesso de
minha parte, dado que no fundo tal coisa se mostraria de muito pouca utilidade
para você agora. Contudo é de ordem bastante prática saber evitar áreas de
formação desse fenômeno. Primeiramente, afinal o que é o albedo e o que devo
saber sobre ele? Salvo se tu já precisaste consultar um oftalmologista durante
o período de verão provavelmente também nunca tenhas percebido que a atmosfera fica
mais turva durante o verão! Pois bem, já notaste sim, só que provavelmente não
tenhas associado! Já viste em um dia quente uma ondulação de calor sobre o
asfalto, ou como o ar se turva próximo a chama de uma vela? Então, esse é o tal
do albedo que cria a famigerada turbulência! Simples assim... Podes imaginar
que tal fenômeno é desprezível, contudo ao ampliarmos o arco celeste, também
ampliamos a turbulência contida nele tornado a imagem gerada tremula. Como
imagino que NÃO cometerás a estupidez de fazer uma fogueira próximo ao seu
telescópio uma das condicionantes já está equacionada. Então fica a segunda
dica: evitar instalar seu telescópio em áreas que receberam muito calor durante
o dia; como por exemplo: pisos concretados ou asfaltados, telhados, terrenos
rochosos, etc... Por fim uma dica bacana, espere que o objeto fique mais próximo
do zênite para observá-lo! Lembre-se dos elementos que estudastes em geometria
plana, em uma cora a menor reta de secção possível é aquelas que passam pelo
centro a circunferência inscrita. O que isso tem a ver conosco? Bom, através da
planificação de nossa atmosfera obtemos um objeto próximo a uma coroa. Essa secção
de reta que falei está exatamente a 90° de nosso ponto de observação, permitido
assim que cortemos menos atmosfera, logo, menos albedo. Tal fato também é
responsável, em grande parte, pelo fenômenos observacional da Lua nascer enorme
em notes cujo dia foi muito quente e diminuir a medida que ela se aproxima do zênite....
A poluição atmosférica também atrapalha bastante o andamento
da atividade. Quando falo em poluição atmosférica me refiro a qualquer coisa em
suspensão no ar, tanto minúsculos litometeoros assim como umidade e orvalho. Logo,
se você mora próximo a alguma zona industrial ou em um local muito úmido
sofrerá com isso. Não é a toa que os grandes observatórios terrestres estão
locados no meio de desertos... Tais partículas refratam a luz que é vem do
espaço fazendo com que essas deteriorem sua definição dos objetos. Isso é um
problema quando se usam grandes aumentos, fazendo com que nos limitemos as
oculares de maior diâmetro, logo de menor aumento.
Em síntese, existe um método prático que une todos essas variáveis
a fim de avaliar as condições de deterioração da atmosfera! É realmente
simples. Aponte seu telescópio para a zona de transição entre o dia e a noite
lunar. Use uma ocular de aumento intermediário e nenhuma barlow. Pretendo explicar mais tarde, o tipo de
configuração de montagem das lentes oculares, assim como a magnificação excessiva
também são fontes de distorção. Por fim, tenha certeza que a montagem do
cavalete está firme. Só então, compare o que observa com a tabela abaixo:
1 = Imagem imóvel, de excelente qualidade;
2 = Pequena oscilação da imagem ou ondulações lentas;
3 = Agitação da imagem com breve visão dos pormenores;
4 = Rodopios e misturas de contrastes e pormenores;
5 = Perturbação intensa, com invisibilidade dos pormenores.
Tenha em mente que quanto menor o índice, melhor a qualidade
da observação! Os métodos para atenuarmos tais efeitos são os que já foram
falados: Minimizar os aumentos oculares, buscar locais mais secos e aumentarmos
o ângulo de declividade do telescópio. Podes estar imaginado que lugares mais
altos podem propiciar melhores observações pois terá menos atmosfera para ser
cortada... ledo engano! Devido aquela propriedade geométrica presente nas
coroas, entre escalar o Everest ou aumentar a declividade de meu telescópio eu
ainda prefiro a segunda opção. ;P
Existe ainda mais um fator a ser controlado, evite grandes centros
urbanos! Essa é a enfadonha poluição luminosa, tal coisa parece bastante obvia,
quanto maiores as fontes de luz ao seu redor mais fraco fica a luz que chega
sem interferência aos nossos olhos. Contudo, como morador de um grande centro
metropolitano sempre pasmo ao olhar para o céu quando estou no interior, A fim
de demonstrar o quanto interferência é brutal simulei no software Stellarium
diferentes índices de poluição luminosa, partido do 1 até o 9. Notem que não
vario nem a posição nem a hora, mas tão somente o índice de luz parasita. Não
confunda esses níveis de poluição com a escala de perturbação atmosférica. De
comum entre as duas só mesmo o fato de quanto menor o índice atingido melhor para a
observação.
-Índice 1: Céu Primordial, sem a interferência humana.
-Índice 3: Céu Rural
-Índice 5: Pequeno Núcleo Urbano
-Índice 7: Centro Urbano
-Índice 9: Metrópole
Destarte, espero ter evidenciado que para praticarmos uma saída
de campo bem sucedida devemos nos dar o mínimo de planejamento para essa
atividade. Com esse último post imagino que tu já tenhas ferramental para
planejar seus ensaios próprios. Também termino o que planejei falar sobre
localização, espero que tenhas se divertido e que também esteja pronto para
abordarmos um novo tópico no próximo post.
O universarso o meio-ambiente acredito que já não é possivel percebe-lo sem a ação do homem. Mas esta seria mais uma longa reflexão.
ResponderExcluirOi Sandra, desculpe a demora em responder. Acredito que esse seria um tópico muito bom para se debater e também um convite a reflexão! :)
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