domingo, 29 de janeiro de 2012

Ao Contrário de Goeth.



Mesmo que a despeito do poeta que morreu pedindo por mais luz, certa vez, em uma classe de matemática um professor nos evidenciou o contrário. Nesse dia o docente nos propôs uma série bastante complexa que nos tomou grande parte da aula para resolver tal equação. Era véspera de prova e imaginava que ele não teria tempo de corrigi-la, pois faltavam poucos minutos para o final do período. Sem presa ele se aproximou do quadro negro aplicou uma técnica de primitivação, desse modo e  em não mais duas linha e alguns segundos ele chegou aos mesmos resultados que o resto da turma havia obtido em horas de trabalho. Não me lembro de qual equação era, nem qual técnica de primitivação foi aplicada, contudo bem me lembro da lição demostrada por esse homem após seu feito. Atrás de óculos pesados, nos fitando com olhos mareados pelo depósito de décadas de sedimentação de pó de giz, fulminou... -Pois é pessoal, luz demais também cega os olhos!

Talvez pelo fato desse homem ter fundamentado seus valores na tradição judaica, que ensina que nada é mais precioso que a luz, contudo em seu excesso ela ofusca a visão; esse bom docente citou acidentalmente um dos postulados mais fundamentais da observação astronômica. Por mais dicotômico que isso pareça, para captarmos a luz, devemos nos abrigar da luz e de tudo mais que a reflita. Para tanto, devemos atentar as melhores condições para que captemos tão somente a luz que nos é favorável. Existe uma série de variáveis que vêm a influenciar a qualidade da luz que queremos captar. Manipulando tais coeficientes podemos selecionar o melhor tempo e lugar para aproveitarmos o máximo desempenho de nossos aparatos ópticos.

Acredito que a nebulosidade ao longo do tempo tenha se apresentado como a pior barreia ao astrônomo. Além da obvia obstrução por capota que as nuvens causam no planisfério celeste, essas também refletem parte da luminosidade oriunda das cidades assim como da lua. Tal coisa é realmente frustrante, pois por vezes esperamos messes por determinada efemérides planejamos saída de campo e o céu está encoberto... Certamente seria um absurdo tentarmos dissipar as nuvens através de algum método fantástico, porem podemos atentar para alguns princípios. Devemos lembrar que o período de verão é muito mais nebuloso que o de inverno. Isso não é lá grande problema, pois minha experiência me aponta que o céu mais interessante. Entretanto, existem objetos que só se mostram nessa época. Pode ser uma boa idéia esperar um dia que tenha chovido torrencialmente, comumente a noite vai estar com o céu limpo. Durante o inverno e essas condições são mais raras, geralmente só associadas a entradas de frentes frias que são bem mais rápidas em sua passagem. Outra vantagem dessa época do ano está na baixa umidade e temperatura atmosférica o que minimiza os efeitos de aberração provocados pelo albedo e pela formação de orvalho sobre o espelho.  

Justamente a temperatura é mais um condicionante para a boa observação. Um dia que foi muito quente o ar fica “mexido” gerando turbulência, provocando esse fenômeno de albedo que falei no parágrafo anterior. Devemos nos lembrar que a atmosfera também é um fluido, logo responde as leis que regem a mecânica desses corpos! Podes se lamentar agora que não recordares mais de quase nada sobre Termodinâmica ou Pneumática, sem problemas, isso só prova que você provavelmente seja uma pessoa feliz! :) Acredito que o objetivo geral desse blog seja se divertir com as observações e não calcularmos os índices de refração de nossos objetos observáveis. Isso seria realmente um excesso de minha parte, dado que no fundo tal coisa se mostraria de muito pouca utilidade para você agora. Contudo é de ordem bastante prática saber evitar áreas de formação desse fenômeno. Primeiramente, afinal o que é o albedo e o que devo saber sobre ele? Salvo se tu já precisaste consultar um oftalmologista durante o período de verão provavelmente também nunca tenhas percebido que a atmosfera fica mais turva durante o verão! Pois bem, já notaste sim, só que provavelmente não tenhas associado! Já viste em um dia quente uma ondulação de calor sobre o asfalto, ou como o ar se turva próximo a chama de uma vela? Então, esse é o tal do albedo que cria a famigerada turbulência! Simples assim... Podes imaginar que tal fenômeno é desprezível, contudo ao ampliarmos o arco celeste, também ampliamos a turbulência contida nele tornado a imagem gerada tremula. Como imagino que NÃO cometerás a estupidez de fazer uma fogueira próximo ao seu telescópio uma das condicionantes já está equacionada. Então fica a segunda dica: evitar instalar seu telescópio em áreas que receberam muito calor durante o dia; como por exemplo: pisos concretados ou asfaltados, telhados, terrenos rochosos, etc... Por fim uma dica bacana, espere que o objeto fique mais próximo do zênite para observá-lo! Lembre-se dos elementos que estudastes em geometria plana, em uma cora a menor reta de secção possível é aquelas que passam pelo centro a circunferência inscrita. O que isso tem a ver conosco? Bom, através da planificação de nossa atmosfera obtemos um objeto próximo a uma coroa. Essa secção de reta que falei está exatamente a 90° de nosso ponto de observação, permitido assim que cortemos menos atmosfera, logo, menos albedo. Tal fato também é responsável, em grande parte, pelo fenômenos observacional da Lua nascer enorme em notes cujo dia foi muito quente e diminuir a medida que ela se aproxima do zênite....


A poluição atmosférica também atrapalha bastante o andamento da atividade. Quando falo em poluição atmosférica me refiro a qualquer coisa em suspensão no ar, tanto minúsculos litometeoros assim como umidade e orvalho. Logo, se você mora próximo a alguma zona industrial ou em um local muito úmido sofrerá com isso. Não é a toa que os grandes observatórios terrestres estão locados no meio de desertos... Tais partículas refratam a luz que é vem do espaço fazendo com que essas deteriorem sua definição dos objetos. Isso é um problema quando se usam grandes aumentos, fazendo com que nos limitemos as oculares de maior diâmetro, logo de menor aumento.

Em síntese, existe um método prático que une todos essas variáveis a fim de avaliar as condições de deterioração da atmosfera! É realmente simples. Aponte seu telescópio para a zona de transição entre o dia e a noite lunar. Use uma ocular de aumento intermediário e nenhuma barlow.  Pretendo explicar mais tarde, o tipo de configuração de montagem das lentes oculares, assim como a magnificação excessiva também são fontes de distorção. Por fim, tenha certeza que a montagem do cavalete está firme. Só então, compare o que observa com a tabela abaixo:

1 = Imagem imóvel, de excelente qualidade;
2 = Pequena oscilação da imagem ou ondulações lentas;
3 = Agitação da imagem com breve visão dos pormenores;
4 = Rodopios e misturas de contrastes e pormenores;
5 = Perturbação intensa, com invisibilidade dos pormenores.


Tenha em mente que quanto menor o índice, melhor a qualidade da observação! Os métodos para atenuarmos tais efeitos são os que já foram falados: Minimizar os aumentos oculares, buscar locais mais secos e aumentarmos o ângulo de declividade do telescópio. Podes estar imaginado que lugares mais altos podem propiciar melhores observações pois terá menos atmosfera para ser cortada... ledo engano! Devido aquela propriedade geométrica presente nas coroas, entre escalar o Everest ou aumentar a declividade de meu telescópio eu ainda prefiro a segunda opção. ;P   

Existe ainda mais um fator a ser controlado, evite grandes centros urbanos! Essa é a enfadonha poluição luminosa, tal coisa parece bastante obvia, quanto maiores as fontes de luz ao seu redor mais fraco fica a luz que chega sem interferência aos nossos olhos. Contudo, como morador de um grande centro metropolitano sempre pasmo ao olhar para o céu quando estou no interior, A fim de demonstrar o quanto interferência é brutal simulei no software Stellarium diferentes índices de poluição luminosa, partido do 1 até o 9. Notem que não vario nem a posição nem a hora, mas tão somente o índice de luz parasita. Não confunda esses níveis de poluição com a escala de perturbação atmosférica. De comum entre as duas só mesmo o fato de quanto menor o índice atingido melhor para a observação.

-Índice 1: Céu Primordial, sem a interferência humana.




-Índice 3: Céu Rural   





-Índice 5: Pequeno Núcleo Urbano





-Índice 7: Centro Urbano






-Índice 9: Metrópole






Destarte, espero ter evidenciado que para praticarmos uma saída de campo bem sucedida devemos nos dar o mínimo de planejamento para essa atividade. Com esse último post imagino que tu já tenhas ferramental para planejar seus ensaios próprios. Também termino o que planejei falar sobre localização, espero que tenhas se divertido e que também esteja pronto para abordarmos um novo tópico no próximo post.





2 comentários:

  1. O universarso o meio-ambiente acredito que já não é possivel percebe-lo sem a ação do homem. Mas esta seria mais uma longa reflexão.

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  2. Oi Sandra, desculpe a demora em responder. Acredito que esse seria um tópico muito bom para se debater e também um convite a reflexão! :)

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